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Milagre econômico brasileiro

O milagre econômico brasileiro foi um período de alto desenvolvimento econômico ocorrido durante o governo Médici no contexto da Ditadura Militar no Brasil.
Retrato presidencial do general Emílio Médici, cujo governo foi marcado pelo milagre econômico brasileiro.
O milagre econômico brasileiro ocorreu durante o governo do general Emílio Médici.[1]

O milagre econômico brasileiro foi um período de alto desenvolvimento econômico e índices de crescimento altos, ocorrido durante o governo do general Emílio Médici (1969-1974), no contexto da ditadura militar no Brasil (1964-1985). As causas do milagre econômico brasileiro foram a intervenção estatal na economia, a partir das práticas keynesianas de investimentos em obras públicas e na indústria pesada, siderúrgica, hidrelétrica e petroquímica. O fim do milagre econômico brasileiro está ligado à conjuntura de crise internacional, especialmente à crise do petróleo que ocorreu entre 1973 e 1974.

Leia também: Construção de Brasília — o grande símbolo do desenvolvimentismo do governo Juscelino Kubistchek

Resumo sobre o milagre econômico brasileiro

  • O milagre econômico brasileiro foi um período de alto desenvolvimento econômico e índices de crescimento altos, ocorrido entre 1969 e 1974, no governo ditatorial militar de Emílio Médici.
  • Os antecedentes do milagre econômico Brasileiro são o Plano de Metas do presidente Juscelino Kubistchek aliado às políticas do nacional-desenvolvimentismo.
  • As causas do milagre econômico brasileiro foram a intervenção estatal na economia, a partir das práticas keynesianas de investimentos em obras públicas e na indústria pesada, siderúrgica, hidrelétrica e petroquímica.
  • As características do período do milagre econômico brasileiro foram: investimento estatal em obras públicas e indústria pesada, em obras hidrelétricas e petroquímicas e os altos índices de crescimento anual do PIB.
  • Alguns dos pontos positivos do milagre econômico brasileiro foram o crescimento do PIB e a queda da inflação.
  • Alguns dos pontos negativos do milagre econômico brasileiro foram o crescimento da dívida externa e o aumento da inflação nas décadas seguintes.
  • Durante o milagre econômico brasileiro, foram construídas diversas obras públicas, chamadas de Obras Faraônicas. Uma delas foi a Usina Hidrelétrica de Itaipu.
  • O fim do milagre econômico brasileiro está ligado especialmente à crise do petróleo que ocorreu entre 1973 e 1974.
  • Algumas das principais consequências do milagre econômico brasileiro foram o alto crescimento econômico, industrial e financeiro no período 1969-1973 e o aprofundamento da crise econômica pós-1974.

O que foi o milagre econômico brasileiro?

O milagre econômico brasileiro foi um período de alto desenvolvimento econômico e índices de crescimento altos, ocorrido durante o governo do general Emílio Médici (1969-1974), no contexto do Regime Militar. Entre os anos de 1969 e 1973, o PIB brasileiro cresceu de 9,8% ao ano para 14% ao ano e a inflação caiu de 19,46% para 15,6%. Além disso, outras medidas do governo contribuíram para o clima de crescimento econômico e efervescência financeira, como a redução de gastos públicos e de emissão de papel moeda. 

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Antecedentes do milagre econômico brasileiro

Os antecedentes do milagre econômico brasileiro remontam ao governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961). O Plano de Metas de Juscelino Kubitschek aliado às políticas do nacional-desenvolvimentismo inaugurou um período de crescimento econômico alicerçado na condução estatal.

Nos anos seguintes, o governo de Castello Branco (1964-1967), primeiro governo militar, retomou a política de JK através da criação do Plano de Ação Econômica do Governo (Paeg), que pretendia, basicamente, combater a inflação e expandir a industrialização.

Por sua vez, no governo Médici (1969-1974), o Ministério da Economia passou a ser chefiado pelo economista Antônio Delfim Netto, que adotou medidas keynesianas, sobretudo o aumento em investimentos estatais e realização de obras públicas.

Causas do milagre econômico brasileiro

As causas do milagre econômico brasileiro foram a intervenção estatal na economia, a partir das práticas keynesianas de investimentos em obras públicas e na indústria pesada, siderúrgica, hidrelétrica e petroquímica, ocorridos durante o período de governo de Emílio Médici (1969-1974). Através dessas medidas, os níveis de crescimento anual do PIB aumentaram consideravelmente, o que explica o uso do termo “milagre” para se referir à época.

Características do período do milagre econômico brasileiro

Como características do período do milagre econômico brasileiro, podem-se apontar:

  • O investimento estatal, com base na economia keynesiana, em obras públicas e indústria pesada.
  • O investimento estatal em obras hidrelétricas e petroquímicas.
  • Os altos índices de crescimento anual do PIB.
  • A queda da inflação anual média.
  • O aumento da arrecadação tributária, salários e poder de compra da população.
  • A construção de grandes obras públicas, como a Usina de Itaipu e a Transamazônica.

Pontos positivos do milagre econômico brasileiro

Como pontos positivos do milagre econômico brasileiro, podem-se apontar:

  • aumento da arrecadação tributária nacional;
  • aumento do poder de compra da população;
  • aumento das exportações e reservas cambiais;
  • crescimento do PIB e queda da inflação.

Pontos negativos do milagre econômico brasileiro

Como pontos negativos do milagre econômico brasileiro, podem-se apontar:

  • Crescimento da dívida externa, um dos motivos para o aumento da inflação nas décadas seguintes.
  • Aumento da concentração de renda no país.
  • Aumento da intervenção econômica do Estado através de empresas estatais, que mobilizaram grandes recursos na manutenção de cargos e empregos públicos.
  • Fracasso de grandes obras públicas, como a Transamazônica.
  • Ocorrência do milagre durante um período ditatorial autoritário e violento, no qual as liberdades individuais e a cidadania não eram respeitadas.

Obras realizadas durante o milagre econômico brasileiro

Durante o milagre econômico brasileiro, foram construídas diversas obras públicas, apelidadas pela imprensa da época como Obras Faraônicas, uma referência irônica a suas infraestruturas gigantescas e pouca importância prática. Veja algumas delas a seguir.

→ Usina Hidrelétrica de Ilha Solteira (1965-1978)

A Usina Hidrelétrica de Ilha Solteira, construída entre 1965 e 1978, foi a maior usina hidrelétrica do Ocidente, parte do complexo energético de Urubupungá — o maior do planeta na época.

Usina Hidrelétrica de Ilha Solteira, uma das obras faraônicas da época do milagre econômico brasileiro.
Usina Hidrelétrica de Ilha Solteira.[2]

→ Usina Hidrelétrica de Itaipu (1975-1982)

A Usina Hidrelétrica de Itaipu, construída entre 1975 e 1982, foi fruto de um acordo entre Brasil e Paraguai e é até hoje a maior usina hidrelétrica dos dois países.

Usina Hidrelétrica de Itaipu, uma das obras faraônicas da época do milagre econômico brasileiro.
Usina Hidrelétrica de Itaipu.[3]

→ Usina Nuclear Angra 1 (1972-1985)

A Usina Nuclear de Angra 1, construída entre 1972 e 1985 a partir da aquisição de um reator nuclear dos EUA, foi a primeira a ser construída em Angra dos Reis (RJ), onde hoje existe o Centro Nuclear Almirante Álvaro Alberto, que abriga outras duas usinas do tipo.

Usina Nuclear Angra 1, uma das obras faraônicas da época do milagre econômico brasileiro, e Usina Nuclear Angra 2.
Usina Nuclear Angra 1 (à sua esquerda) e Usina Nuclear Angra 2 (à sua direita) no Centro Nuclear Almirante Álvaro Alberto.[4]

→ Rodovia Transamazônica / BR-230 (1972-)

A Rodovia Transamazônica (BR-230), com construção iniciada em 1972, é um projeto de rodovia transversal que cortaria todo o Norte e Nordeste brasileiro, com uma extensão de mais de 4,2 mil km, ligando o Amazonas à Paraíba. Suas obras nunca foram devidamente acabadas, possuindo diversos problemas infraestruturas.

Mapa do projeto de construção da Rodovia Transamazônica (BR 230), uma das obras faraônicas do milagre econômico brasileiro.
Mapa que mostra o projeto de construção da Transamazônica.[5]

→ Ponte Rio-Niterói (1969-1974)

A Ponte Rio-Niterói, construída no Rio de Janeiro entre 1969 e 1974, se tornou um dos maiores símbolos das Obras Faraônicas da época do milagre econômico brasileiro.

Construção da ponte Rio Niterói, um dos maiores símbolos das obras faraônicas da época do milagre econômico brasileiro.
Construção da Ponte Rio-Niterói em 1971.[6]

Fim do milagre econômico brasileiro

O fim do milagre econômico brasileiro está ligado à conjuntura de crise internacional, especialmente à crise do petróleo que ocorreu entre 1973 e 1974. A partir de 1974, a inflação brasileira voltou a subir, e a crise mundial gerou um efeito cascata: caíram as importações e com elas a relevância nacional no mercado externo, ocorreu a diminuição do crescimento e o déficit na balança comercial (causados, sobretudo, pela importação de petróleo, nesse momento mais caro, devido à crise) e aumento da dívida externa do país.

Consequências do milagre econômico brasileiro

Trecho inacabado da Rodovia Transamazônica (BR 230), cuja construção foi iniciada na época do milagre econômico brasileiro.
Trecho ainda hoje inacabado da Rodovia Transamazônica (BR-230), no estado do Pará.[7]

Entre as consequências do milagre econômico brasileiro, destacam-se: o alto crescimento econômico, industrial e financeiro no período 1969-1973; a construção de muitas obras públicas de infraestrutura energética e rodoviária, bem como o fracasso na construção de algumas delas, como a Rodovia Transamazônica (BR-230); o aprofundamento da crise econômica pós 1974, motivada pelo primeiro choque do petróleo, que gerou um efeito cascata com as conjunturas da época e levou a economia do Brasil em um caminho de mais de uma década e meia de alta inflação e crise econômica severa.

Veja também: Plano Real — um conjunto de reformas econômicas implementadas no Brasil a fim de combater a hiperinflação no país       

Exercícios resolvidos sobre o milagre econômico brasileiro

Questão 1

(Uerj) As particularidades do período conhecido como “milagre econômico” foram caracterizadas por:

A) redução das taxas de inflação e crescimento do PIB

B) incremento da dívida externa e retração das importações

C) estagnação das exportações e manutenção das taxas de inflação

D) estabilização da balança comercial e diminuição da dívida externa

Resolução:

Alternativa A.

O milagre econômico foi caracterizado pela queda da inflação e crescimento do PIB.

Questão 2

(IFF) “O período do chamado ‘milagre’ estendeu-se de 1969 a 1973, combinando o extraordinário crescimento econômico com taxas relativamente baixas de inflação. O PIB cresceu na média anual de 11,2% no período, tendo seu pico em 1973, com uma variação de 13%. A inflação média anual não passou de 18%.” (FAUSTO, Boris. História Concisa do Brasil. São Paulo: EdUSP / Imprensa Oficial, 2001. p. 268).

Entre as características do chamado “milagre econômico”, durante a Ditadura Civil-Militar Brasileira, NÃO está:

A) Ampliação dos investimentos de capital estrangeiro, principalmente no setor automobilístico, atraindo montadoras como a Ford e General Motors.

B) Crescimento da capacidade de arrecadação de impostos por parte do Estado, contribuindo para a redução da inflação.

C) Aumento do volume de empréstimos no exterior, possibilitados pela ampla disponibilidade de recursos na economia mundial em crescimento até aquele momento.

D) Maior distribuição de renda através do avanço dos programas sociais e do aumento do salário-mínimo para os trabalhadores de baixa qualificação.

E) Destaque para indicadores muito baixos de saúde, educação e habitação, utilizados para medir a qualidade de vida do país.

Resolução:

Alternativa D.

Apesar dos altos índices econômicos, não foi parte do planejamento do governo o investimento em programas sociais nem a distribuição de renda.

Créditos de imagem

[1] Arquivo Nacional / Wikimedia Commons (reprodução)

[2] Mof0 / Wikimedia Commons (reprodução)

[3] Jonas de Carvalho / Wikimedia Commons (reprodução)

[4] Rodrigo Soldon / Wikimedia Commons (reprodução)

[5] Ministério dos Transportes / Wikimedia Commons (reprodução)

[6] Arquivo Nacional / Wikimedia Commons (reprodução)

[7] Keith Irwin / Wikimedia Commons (reprodução)

Fontes

GASPARI, Elio. A Ditadura Envergonhada. São Paulo: Intrínseca, 2014.

NAPOLITANO, Marcos. 1964: História do Regime Militar Brasileiro. São Paulo: Contexto, 2011.

Publicado por Tiago Soares Campos
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